Alunos desesperados ou apaixonados?

Publicado em Andei Pensando... e Cotidiano.


Alunos desesperados ou apaixonados?

Entre as coisas que considero indiscutíveis e sempre presente na história da humanidade, gostaria de destacar a assustadora curiosidade reinante no mundo infantil.De maneira geral nascemos com tanta ferocidade para o aprender e absorver o mundo a nossa volta, que muitas vezes acabamos atropelados no meio de tanta informação. As crianças querem absolutamente tudo!Crianças pequenas são seres apaixonados pela possibilidade da descoberta de algo a mais em si mesmas.

Falar o nome certo de uma cor indagada, resolver todas as equações com o auxílio dos próprios dedos ou até mesmo discriminar formas, estaturas e tamanhos de objetos, são prazeres de sabor indescritível.A cada nova descoberta constatamos que a grandeza do mundo está justamente em crescermos com ele.Porém, feliz ou infelizmente, chega a hora que temos que mudar, e repare que fato estranho: exatamente quando vamos deixando esses primeiros gloriosos anos da infância é que entramos na vida escolar, e começa a desaparecer toda aquela vivacidade de se aprender. Onde será que ela vai parar?

A partir desse momento, o aprender tende a se transformar em um ritual sem empates. Ou se ganha ou se é derrotado, e a esses muitas vezes resta a apatia resultante da descrença em suas próprias habilidades.“Para que me esforçar, se obviamente o sucesso é sempre dos outros?”Com o passar dessa primeira, exaustiva e ansiosa fase, parece que tendemos a moderar, modelando nossa busca de conhecimento às contingências impostas ou estimuladas por um misto de mídia e pressão familiar mal estruturada. Ficamos a mercê de uma vontade que repentinamente só é despertada quando estamos diante de novas oportunidades que se abrem e/ou interesses externos.Em outras palavras, já não nos realizamos mais pela auto-descoberta e sim por descobrirmos aquilo que esperam de nós.Interessante observar que, vencido esses felizes momentos do viver pelo viver, precisamos de um misto de oportunidades e interesses para o restabelecimento da busca do conhecimento, quer formal ou informal, e então continuar a viver.

Ao contrário, por que e para que aprender algo a mais?Perceba como é simples justificarmos a importância do aprender: precisamos captar e apreender novos conhecimentos, pois somente dessa forma nos capacitamos para enfrentar as adversidades, através de atitudes criativas. Pessoas previsíveis, carregadas de condutas óbvias pouco interferem no meio em que habitam.A partir dessas idéias, em um mundo que, apesar de vivo e em constante transformação, se mostra com poucas perspectivas e até mesmo desleal em sua competitividade, chega a parecer tola e desnecessária a persistência de se ir além. Afinal, ir além do quê?

Diante dessa encruzilhada, em busca da identificação de caminhos que venham a remotivar pessoas e alunos das mais diferentes faixas etárias para a aprendizagem, creio que precisamos nos deter em alguns aspectos.Em primeiro lugar, a criança que um dia fomos persiste dentro de nós, o que viabiliza, para aqueles que não se entregam a mesmice dos sonhos coletivos, o despertar do “viver por viver”, com o conseqüentemente “aprender pelo descobrir-se”.Em um segundo momento pense na possibilidade de, quando transmitir algo a alguém, levar essa pessoa a reconhecer nessa informação, uma ferramenta capaz de auxiliá-la no processo de desvendar-se.

Descobrir-se como exímio motorista ou piloto, hábil no uso das palavras, alquimista nas artes culinárias, artista diante de um grande público ou mesmo do espelho caseiro, são sensações únicas, que em muito se assemelham a aqueles sabores indescritíveis da infância citada.Quando um aprendiz visualiza a possibilidade de abrir seus caminhos, a sede do saber, hoje ridicularizada por muitos, se apresenta, e o resto volta a ser natural.Desejo e curiosidade são competências naturais, que inadvertidamente se ocultam em muitas pessoas, com o passar do tempo.Repare que nos dias atuais, em se tratando de estudo, só “se atira” aquele que se apaixona pelas possibilidades da aquisição, ou aquele que deseja se livrar da situação em que está.Todos conhecem alunos que realmente acreditam em um futuro melhor como decorrência de seus empenhos, bem como alunos que, no auge do ódio da matéria ou do personagem do professor, chegam aos limites da produção de endorfina, arrancando energias inimagináveis em prol da superação de objetivos.

Por outro lado, alunos com metas medianas se satisfazem com o básico, que na maioria das vezes vai sendo minimizado em detrimento de outros interesses, o que sinceramente não me parece ser um problema. O problema é que infelizmente muitos trocam o nada por coisa alguma.Diga a teus aprendizes que em último caso, devem estudar para ao menos ter o que dialogar com seus amigos e suas paixões.Pensando essas condições, me parece inevitável olharmos a função do professor como aquele que precisa ir além da aula.Lembre-se que, em (se tratando de) psicologia, o contrário de ótimo não é o péssimo. O contrário de ótimo é o bom.

Quando em péssimas condições, nos engajamos na luta pelo crescimento, porém, quando as coisas aparentam estar boas deixamos de buscar a otimização.O maior inimigo das salas de aula, e da sociedade de uma forma geral, é a acomodação decorrente de situações de conforto que inviabilizam os sonhos e as crenças pessoais.

O que fazer então?Sugiro que propiciemos um pouco de tensão, pois ela se incumbirá de levar cada aluno a descobrir suas verdadeiras razões na buscar pelo despertar de competências.Caso você tenha se incomodado com a palavra tensão, tente lembrar-se o quanto aprendeu e quantas lutas venceu, na medida em que, tendo tensão, a superou.Diante de dias tão mornos e apáticos, te convido a engajar-se em propostas apaixonadas.

Tenho certeza que não se arrependerá.



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