Quem educa nossos filhos?

Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.


Quem educa nossos filhos?

A expressão “filho de peixe, peixinho é” tão falada em um passado recente, tem se tornado cada vez mais fora da realidade de nossos tempos, quando nos referimos a educação de nossos filhos. Sem sombra de dúvidas, é necessário pensarmos para além desse velho mito, agora que vivemos o século XXI.          

Não podemos negar a estrema importância das figuras representativas de pai e mãe na formação dos mais jovens, explicando conceitos, hábitos e especialmente definindo os valores certos e errados, que acreditam, porém não é mais possível ignoramos o impacto dos diferentes estímulos externos que aparecem e crescem a todo momento, o que tem levado muitas famílias a buscarem defender seus filhos, tentando bloquear essas interferências ao restringir, quer colegas, lugares e muito especialmente determinados espaços da internet, que consideram perigosos (certos jogos, sites, vídeos e até mesmo redes sociais).

Infelizmente, porém, esse tipo de proibições, muitas vezes acaba apenas criando um ambiente de conflitos familiares com frases típicas em que os pais dizem: - “no meu tempo não era assim”, enquanto os filhos respondem que: - “na casa do fulano os pais deixam...”. Frases típicas que não possibilitam a abertura de um diálogo que com certeza é muito mais rico, na busca por um equilíbrio entre os diferentes pontos de vista e de interesses.          

Mas, se desde sempre as famílias concorreram com a presença de ideias “estrangeiras” dos mais diferentes lugares, na contramão de suas opiniões e valores, por que nosso atual momento incomoda tanto, a pontos de gerar um nítido crescimento da preocupação das famílias?

A resposta está no volume e na velocidade como novas, e até antagônicas informações, chegam até os mais jovens, na maioria das vezes sem que eles compreendam, simplesmente recebendo e repetindo atitudes, não aceitas ou incompreensíveis aos olhos de seus pais. Letras de músicas, games por muitos considerados violentos e opiniões de alguns chamados de “famosos” parecem ditar o que deve ou não ser visto, pensado e realizado.

Diante desse quadro, muitas famílias se assustam com o receio de ver a educação de seus filhos escapando pelos dedos das mãos, sem perceber que não havendo como impedir a presença do novo, existe a necessidade de uma administração do impacto desse leque de novidades da infância, com a experiência e expectativa adulta, que também passa por transformação, atualmente vivida pelos pais. É justamente nesse momento que as famílias precisam estar conectadas, na busca por mais clareza dos fatos apresentados, o que é capaz de eliminar interpretações vazias ou até mesmo preconceituosas, daquilo que as crianças e mesmo adolescentes, estariam captando.

Nesse sentido, enquanto muitos pais se preocupam em proibir determinados influenciadores, aplicativos e games, outros estão conseguindo melhores resultados buscando conhecer as referidas letras de músicas, games, séries e redes sociais (entre outros estímulos), dedicando um tempo para ouvir e conversar a respeito dos argumentos que seus filhos trazem. Sempre lembrando que um grande facilitador das relações em geral, está em primeiro valorizarmos o correto, ouvir as colocações e, se necessário, criticarmos aquilo que destoa do esperado. Assim fazendo, aumentam a possibilidade de conhecer os estímulos que seus filhos recebem diretamente, das mais diferentes fontes (internet, colegas, vizinhos...) e propiciam que seus filhos os conheçam para além de suas regras, muitas vezes pouco explicadas.

Passamos então a ter a real possibilidade de acordos claros com relação a esses diferentes assuntos geradores de conflitos. Em outras palavras, quando os pais estabelecem acordos, em um momento de tanta variedade de estímulos, viabilizam a possibilidade desses jovens virem a desenvolver uma condição de reflexão, diante de novas atrações, sem necessariamente serem levados por futuras modas passageiras e sem alicerce.

Enquanto muitos adultos continuam imaginando a educação de seus filhos dentro de um projeto estático, acreditando que eles passarão por situações semelhantes àquelas vividas em tempos anteriores, outros já começam a observar que uma atitude de empatia, em que buscamos compreender os motivos que levam o outro a apresentar determinadas atitudes e pensamentos, antes de colocar nossa visão, amplia os espaços de cordialidade e compreensão entre os membros da própria casa.

Buscando essa compreensão, muito bom quando os pais também pesquisam o entorno de seus filhos, ou seja, a opinião dos colegas e de seus respectivos familiares, as observações da escola que frequenta, bem como as de outras instituições (clube, igreja e comunidade) que de alguma forma transmitem valores.

Como colocou Aristóteles, “a função primeira do conhecimento é levar o homem a vencer os seus próprios medos”, o que nos leva a ter motivos para observar que todo novo conhecimento carrega em si mesmo a possibilidade de vir a ser útil em situações futuras, na medida em que para novos desafios são necessárias novas ferramentas que as solucionem. O “novo” sempre nos surpreende e muitas vezes causa medo, mas negá-lo só nos fragiliza, fragilizando também nossos descendentes.

Filho de peixe, na descrição popular, necessariamente não é peixinho, mas, quando aprende sem receios a trocar experiências com os mais velhos, com certeza levará para sempre muitos de suas conversas, experiências e histórias.

Estamos preparando nossos filhos para um mundo em acelerada transição ou preferimos ficar na torcida para que nossos projetos se concretizem conforme sonhamos anteriormente?



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