Curiosidade, relacionamento e paciência
Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.
Você se lembra da expressão: “...o diploma é a melhor herança que os pais podem deixar para seus filhos”?
Pois bem, passados uns 20 ou 30 anos, podemos afirmar que essa verdade precisa ser acrescida de mais algumas características, o que não nega a importância dos diferentes certificados de conclusão de cursos técnicos, universitários ou mesmo de especialização.
A verdade é que já não basta ser o “primeiro da turma” e ter um comportamento exemplar em casa e na escola, por mais que essas características sempre mereçam elogios.
A aceleração das mudanças em nossa sociedade gera novas cobranças e precisamos nos atentar para isso. Mas, quais seriam as novas exigências para esses novos tempos?
Na verdade, elas sempre existiram e tiveram sua importância, porém a cada novo momento são mais observadas e desejadas, sendo capazes de auxiliar a abertura ou mesmo o fechamento de portas no que diz respeito ao futuro dos mais jovens.
Para justificar essa afirmação, precisamos compreender que os novos espaços sociais e profissionais, cada dia mais, estão buscando e valorizando as pessoas que espontaneamente (sem fazer de conta) apresentam as atitudes de ouvir, auxiliar outros, sugerir ideias e pensar o sucesso antes dentro do próprio grupo e não somente o individual.
Se há muitos anos, as pessoas se orgulhavam de trabalhar e se aposentarem em uma mesma empresa e função, hoje já observamos que as novas alternativas profissionais ocorrem cada vez de forma mais inesperada, solicitando sempre novos conhecimentos e disponibilidade para nos adaptarmos.
Bem, assim pensando, quais devem ser os pontos que os pais, em parceria com a escola de seus filhos, devem estar atentos e quando necessário, intervir?
Falo da parceria com a escola para além das informações a respeito do rendimento de aprendizagem, pois, se de um lado conhecemos nossos filhos dentro do ambiente caseiro e protegido, é no ambiente escolar que eles podem ser observados em suas relações sociais, quer de participação ou até mesmo de isolamento.
Nesse sentido, tem sido muito comum a criança questionadora, que “agita” dentro de casa, porém se intimidando no meio dos colegas, como também aquela que tende a se isolar em família, se soltando dentro do grupo de amigos, quando está na sala de aula.
Observando essa situação, muitas vezes apenas consideramos que nosso filho é apenas mais quieto ou mais irritado (meio parecido com o pai ou com a mãe), sem levarmos em conta que o desejo por novos conhecimentos e a abertura para aceitar e até mesmo buscar a relação com diferentes pessoas aceitando e aprendendo com os momentos de fracasso, são instrumentos fundamentais para que venham mais facilmente superar futuras frustrações e dificuldades, cada vez mais presentes nesse mundo poluído de informações, cobranças e oportunidades, navegando com mais calma e equilíbrio nos espaços de um concorrido mundo adulto.
Estimular a curiosidade por novos conhecimentos não se resume em incentivarmos que estudem a fundo as matérias apresentadas pelo currículo escolar, mas também estarem sempre exercitando o prazer de adquirir conhecimento mais dos mais diferentes tipos, ao ouvirem pais, avós, televisão, internet, não se bastando em apenas alguns assuntos específicos. Para tanto é de fundamental importância que os pais apresentem seu lado de interesse em conhecer novidades, sempre valorizando e apresentando novas perspectivas para o dia a dia.
Convidar a criança para participar de algumas atividades na cozinha, ver como se troca uma lâmpada, conserta um brinquedo quebrado e até mesmo leva-la a ouvir e interpretar as histórias contadas pelos mais velhos são formas de envolvê-las em um processo, que deve ser acrescido de oportunidades com outras crianças (se possível na mesma faixa de idade), trazendo-as para casa e criando alternativas de atividades concretas (jogos, histórias, e desafios), para diminuir a dependência do uso de celulares e outras tecnologias, que muitas vezes criam acomodação, inclusive em nós, os adultos.
Com essas atitudes acima, temos a possibilidade de estimular o interesse por diferentes ideias e diferentes pessoas, o que sempre foi, e é muito natural nos chamados povos primitivos, mas que, em razão de nossa constante preocupação em proteger os filhos, alimentada pelas facilidades vindas do excesso de tecnologia, parece estar se anulando.
Pessoas e ideias novas sugerem novos desafios e quebras de rotinas, e quem não está habituado com essas situações passa a sofrer muito mais com a simples possibilidade de uma decepção, quando algo desejado não se realiza quando um fato desconhecido se apresenta.
É justamente essa a terceira habilidade a ser desenvolvida: aprender a convivência com os “nãos” da vida, realizando o exercício de “cair e levantar”, repensar os desejos diante da realidade, o que chamamos de desenvolver resiliência (aprender e adaptar-se às necessidades do momento).
Crianças estimuladas ao desenvolvimento da curiosidade, á busca e aceitação de novos relacionamentos e pacientes diante de situações inesperadas, são futuros adultos muito mais preparados para conviver com as constantes novidades desses novos tempos e muito mais equilibradas diante dos infortúnios e cobranças sociais que venham a sofrer. Lembrando que, como dito no início de nossa reflexão, com a ajuda da escola, esse caminho se torna sempre mais fácil.
E aí, que tal despertarmos os naturais comportamentos de sempre querer aprender, conviver e pensar de forma corajosa, em nossos filhos?