Por que você está feliz?

Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.


Por que você está feliz?

Frequentemente estamos cruzamos com pessoas que insistem em querer entender os motivos que geram suas dores, porém raramente prestando atenção nos detalhes naquilo que de alguma forma lhes oportuniza momentos de bem-estar.

O motivo da dor parece sempre mais importante que a causa da alegria. Aplicam-se em manter seus olhares voltados exclusivamente para aquilo que incomoda esquivando-se, sem perceber, da compreensão ou simples contemplação de momentos e fatos agradáveis, que em diferentes proporções persistem em preencher nossas rotinas, como se diante de uma aromatizada brisa só percebessem o medo de um temporal e nada do odor das ervas e flores. Como pensar em um sorvete e imediatamente imaginar uma dor de garganta, quando poderia simplesmente imaginar os sabores.   

Jovens, adultos ou até mesmo pessoas mais maduras com um discurso tristemente semelhante, que persistindo em exaltar o conhecimento daquilo que deve ser evitado, deixam de buscar os detalhes das memórias que, por um dia que seja, pode ter-lhes feito bem. Por outro lado, na boa contramão desse processo, crianças mais novas se mantém na simplicidade de viver e relembrar, seus momentos mais felizes, se atendo a detalhes que tornam os mesmos mais prazerosos e duradouros, como quem lê e se emociona diante de um conto de fadas.

Diante de alguma dificuldade, parece que temos o impulso de encontrar ou eleger causas ou culpados pelo ocorrido, o que parece tornar necessária a autocrítica severa ou a identificação de alguma conspiração inimiga, venha lá de onde vier. A velha e desnecessária história de “termos que matar um leão a cada dia”. Gente crente que qualidade de vida só brota após a eliminação das dificuldades, não aceitando a conviver com a presença das mesmas.

Nessa condição compulsiva por ser entendedor e herói dos próprios caminhos, acabam por desprestigiar a capacidade de criar e se arriscar em novas alternativas, que costumeiramente são mais alicerçadas nas experiências positivas, quer pessoais ou aprendidas, do que em medos, mesmo que controlados. Não se auxilia um dependente químico falando mal das drogas, mas despertando o interesse pelos outros momentos de felicidade que já tenha ou deseje experimentar. Usando uma expressão popular; “o problema não está em tropeçar, mas em apegar-se a pedra”.

Estamos vivendo e preparando os mais jovens, no sentido de minimizar essa atitude de autossabotagem?            

Curiosamente quando encontramos alguém conhecido e perguntamos, “- e aí, como vai a vida...” nos acostumamos a ouvir respostas padronizadas do tipo “mais ou menos...” para, logo em seguida ter início a descrição dos detalhes mais difíceis de ser superados. Lamuria em seu estado mais bruto.

Coisa típica de quem vê no outro uma espécie de muro das lamentações, sempre disposto a auxiliar com respostas via frases como “ fique tranquilo, isso vai passar...” ou “eu também já passei por isso...”. Frases feitas para revitalizar o ânimo e o discurso que todos já deveriam ter na própria língua.  

Culpar o professor pela dificuldade na prova, o gestor pelas agruras na rotina profissional, o desaparecimento intencional de amigos pela solidão sentida, repetindo insistentemente que desde tal fato a vida se complicou é sem dúvidas a atitude mais cômoda e sem coerência que insistimos em, além de praticar, ensinar.

Estranhamente continuamos desenvolvendo essa atitude de endereçar nossos olhares preferencialmente para os aspectos mais obscuros para só mais tarde espiarmos desconfiados as dádivas ao redor.

Essa não aceitação de convívio com as adversidades não é coisa nova. Logo no início livro de Tiago (1:2,3) encontramos a seguinte descrição “...meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança”.

Que nossas crianças tenham a oportunidade de aprender o exercício da captação e da interpretação pacífica e nunca temerosa da luz, que continua sempre disponível.



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