Solitários lobos

Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.


Solitários lobos

Inesperadamente a expressão “lobos solitários”, surge nos noticiários e em rodinhas de conversa, para designar homens que, apesar de oficialmente desvinculados desse ou daquele grupo terrorista radical, realizam nos mais diferentes recantos do planeta, ataques à sociedade, em muitos casos encerrados com o ato do suicídio.

É como se, a partir de agora passássemos a conviver com a possibilidade de qualquer vizinho ou velho conhecido da padaria que frequentamos viesse a ser um potencial inimigo, o que nos coloca mais aprofundados na condição de vítimas de um medo que há um bom tempo já nos vem lentamente incomodando. Mas, por que lobos? Justamente esse que é definido como um animal selvagem, mamífero, carnívoro aparentado com o chacal e o cachorro doméstico, raramente se isolando de seu círculo familiar.

Solidão não é uma de suas características, mas já que escolheram batizar os autores dessas atitudes com esse título, aceitemos, mesmo porque essa não é a palavra chave dessa questão. Solidão é coisa de ser humano que por razões pessoais ou por consequência das mais diferentes distorções sociais, como a alucinante competição apregoada quer pela mídia ou pelos desestabilizados de plantão, que via de regra passam sorrateiramente ao nosso redor, vem fazer morada dentro de cada um de nós.

O que mais assusta, logicamente além das catastróficas ações desses grupos terroristas mundialmente conhecidos e temidos, é o fato de que a sensação de solidão só tem aumentado entre os jovens de nosso tempo; e não apenas neles. Sentir-se só, sentir-se menos ou mesmo sentir-se não merecedor de ser feliz tem se tornado cada vez mais comum em razão de uma delirante e constante obrigação da obtenção de sucesso a todo custo. Quer sucesso financeiro, cognitivo, social ou mesmo estético; tudo é absolutamente desumano e desnecessário.

Quanto mais cobrado em sua “obrigação de ser perfeito”, mais longe do equilíbrio e do compartilhar experiências o ser humano, especialmente o mais jovem, se coloca e, haja isolamento. Essa situação funciona como uma verdadeira escavadeira que vai lentamente abrindo um buraco dentro de cada peito e alimentando a sensação de inutilidade, ou incompetência, diante de um rio de cobranças e comparações contínuas.

É nesse “espaço vazio” que ideias e crenças das mais absurdas raízes podem se instalar e frutificar a qualquer momento, pois aqueles que não traçam planos, fortalecidos por seus grupos sociais acabam por se isolarem em esconderijos cada vez mais tecnologicamente abastecidos ou em atitudes de revolta em busca de sua redenção, quer heroica ou divina.

Uma coisa é certa: lobos não nascem na maldade, mas sim na solidão de cada homem, o que infelizmente estamos produzindo cada dia mais, através da formação de pessoas desconfiadas e inseguras em suas relações. Verdadeiras bombas sempre prestes a implodir ou explodir, o que sinceramente não sei o que é pior.

Será que estamos alimentando momentos e atitudes de uma falsa independência pessoal diante de um contexto que suplica justamente por interrelações? 

Qual será o legado de confiança e convivência que estamos deixando para nossos descendentes?        



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