Revista Mídia Brasil
Publicado em Acontecendo..., Educação, Entrevista, Relacionamento e Psicologia.
“As pessoas têm medo de não serem perfeitas como o mundo exige”
O que seria do mundo sem os psicólogos?
Diante de tantos conflitos internos, gerados por uma sociedade cada vez mais exigente, que se transforma a cada momento, fica difícil acompanhar aquilo que seja o “aceitável”, e daí surgem as frustrações, os medos e a tristeza. Para auxiliar as vítimas desse ciclo vicioso de incertezas e pavores é que existem os profissionais como Guilheme Davoli, psicólogo, psicoterapeuta que atua em escolas e empresas, fornecendo subsídios cognitivos para que cada um reflita por si mesmo sobre as causas da sua infelicidade.
Formado há 35 anos, Guilherme Davoli já atuou em praticamente todos os estados brasileiros. Fazendo palestras, prestando consultorias e reunindo uma bagagem de conhecimentos valiosa que o permite falar a públicos distintos, com linguagem adequada e objetivos diferentes, de acordo com a necessidade de cada grupo.
“Tive muita oportunidade de conhecer pessoas diferentes, as peculiaridades do lugar, e com isso passar o recado da melhor maneira, sempre com o objetivo de melhorar a vida das pessoas”, explica. Segundo Davoli, com o advento da globalização e da internet, foi-se perdendo a identidade local, as pessoas vão se igualando e vivem sempre querendo ser cada vez mais parecidas às outras.
“Há uma necessidade de perfeição, e isso causa medo. A busca do corpo ideal, de coisas materiais, tudo isso vai formando pequenas bombas internas a cada frustração, hoje essa obrigação de ser perfeito, um dia isso explode, é muito perigoso”, diz. A percepção desse sentimento invade as empresas, os relacionamentos, e tudo fica muito passageiro, pois não há realização em nada, não há permanência, e tudo se torna uma busca sem destino.
Para Davoli, as conquistas precisam ser lentas e calmas, quem consegue entender isso vive melhor. “Ninguém admite que as coisas saiam do controle, como se cada um fosse Deus de si mesmo e, com isso os relacionamentos ficam difíceis”. A questão não é nova; se voltarmos no tempo, encontraremos sempre uma sociedade com imposição de padrões, o problema, segundo Davoli, é que hoje essa imposição continua a existir, mas com uma velocidade de mudanças muito alta; o que hoje é aceito, amanhã não é mais e o indivíduo não consegue acompanhar, o que causa estresse e sofrimento.
“Antigamente as pessoas entravam numa empresa pensando em se aposentar nela, hoje isso é um demérito, as pessoas estão sempre buscando algo melhor e não sabem usufruir do que têm nas mãos, não enxergam o momento atual e não desfrutam dele”.
O psicólogo pode ajudar?
De maneira geral, as pessoas pensam que o psicólogo resolve problemas, mas segundo Davoli, o profissional faz algo parecido com um espelho, devolvendo à pessoa uma imagem para que ela, prestando um pouco mais de atenção, encontre seus caminhos. “É comum as pessoas culparem os outros pelos seus problemas, é difícil admitir que a causa é interna, e não de fora”.
Quando o trabalho de consultoria de Davoli é em grupo, a abordagem tem que ser mais geral, para atingir o maior número de pessoas no sentido de ajuda-las a pensar, refletir, buscar novas alternativas para resolver seus conflitos. Empresas, escolas, grupos ou indivíduos, cada vez mais a busca por ajuda profissional em psicologia se torna mais comum. “Houve um tempo em que fazer terapia era considerado uma coisa muito anormal. Hoje as pessoas procuram os consultórios inclusive quando desejam ter alguém para trocar ideias. Não concordo com a ideia de que todo mundo precisa fazer terapia, penso que isso seja necessário para quem precisa de uma troca técnica”, afirma Davoli.
A música
Nas horas vagas, Davoli dedica-se a uma paixão antiga, a música. Natural de Mogi Mirim, sempre se envolveu nessa arte, participou de festivais, teve bandas, deu aulas de música, mas seu interesse pela psicologia foi surgindo com o tempo, e quando a clínica começou a crescer, a música passou para segundo plano, e virou apenas um hobby. “Seria muito bom se tivesse mais tempo para me dedicar à música, mas hoje não tem como, minha rotina é muito carregada. Em minhas palestras e até na terapia eu utilizo trechos de letras de músicas que auxiliam as pessoas a pensarem sobre determinados aspectos da vida. Temos que utilizar toda a base de conhecimento que temos, desde que utilizemos bem”.