As estações nossas de cada dia
Publicado em Andei Pensando... e Cotidiano.
Que saudades do tempo em que havia a primavera, o outono, o verão e o inverno. A gente sabia que roupa deixar pronta para o dia seguinte.Nas festas de junho, a fogueira não era um simples adorno de cenário. Ela era essencial para que nos aquecêssemos do inevitável e charmoso frio daqueles meses.Bons tempos aqueles em que chovia na época das águas, as folhas despencavam no outono e o mundo floria na primavera. As plantas e os insetos tinham o dom de avisar as mudanças.
Tanto os pesquisadores, os pescadores quanto os índios eram especialistas em previsões certeiras, mesmo que algumas fossem desnecessárias.Hoje, depois de tanta intervenção de humanos, metidos a deus, na natureza, o que dolorosamente sentimos é, além do surpreendente aumento das viroses, uma extrema dificuldade em se saber que roupa colocar para um dia todo de incertezas climáticas.Às vezes, o porta malas de meu carro chega a ficar parecido com o camarim de um circo mambembe.
Tem todos os tipos de blusas, sapatos, sandálias e casacos. Parece até que temos que estar sempre preparados para a próxima estação, que talvez se inicie logo após o almoço ou ao cair da tarde.Diante dessa anarquia temporal, até o humor e a estabilidade das pessoas passa a ter nuances de filme de suspense.Anda cada vez mais difícil se saber como vamos reencontrar fulano, que pela manhã, ao telefone, nos parecia tão cordato. Lógico que a questão não se basta nas intempéries lá de fora.
A instabilidade interna é muito mais filha dos medos pessoais, e esses, consequências de uma educação extremamente defensiva. Quem muito se defende perde as oportunidades de se conhecer e, quem não se conhece teme todo e qualquer comentário, por mais construtivo ou tolo que possa ser.Como andam as suas estações?Quando há motivos para debater, tens debatido ou só tentado “ficar de bem com todo mundo”?Quando há motivos para sorrir, tens sorrido ou mantido uma face austera para que os outros não avancem o sinal?Não há mal algum em ser frio, quente, frutífero ou belo, desde que essas expressões sejam coerentes com o momento que vivemos.
A não ser em casos excepcionais, sempre escolha a hora, o lugar e as palavras certas para expressar seus pensamentos, porém nunca deixe de expressá-las.O grande problema dos meteorologistas está ligado às discrepâncias produzidas pelo homem na natureza, enquanto que o problema de nossas relações se situa nas discrepâncias do homem sobre ele mesmo.Que tal, a gente se predispor a reorganizar nossas estações?
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