Encontro no labirinto
Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.
Como é terrível a descoberta de não fazermos falta.Semanas atrás tive uma experiência que em poucos dias conseguiu me colocar em meu verdadeiro e, apesar de pequeno, digno lugar.Tive uma labirintite.Em um misto de tontura, enjoo e outras formas de mal estar, acabei ficando sem a mínima condição de regularmente exercer tanto a profissão quanto minhas atividades sociais.
Isolado em uma não desejável condição de fragilidade e dependência, fui obrigado a descobrir e reconhecer que nunca fui tão importante assim.Não pense que digo isso com a sensação de “ai que dó de mim”. Na verdade acho que muito ganhei com isso, tendo que repensar o quanto estar perdido no labirinto da própria história é uma oportunidade e tanto para se fazer a revisão e saneamento da mesma.
Nos últimos tempos, a velha, comum e desnecessária competição humana tem nos levado a acreditar e buscar o status de um poder que quanto mais atingido, estranhamente mais continua sendo buscado. Até parece obsessão.A coisa mais louca desse quadro é que ninguém consegue descansar quando de posse desse suposto poder.A impressão de que ao se atingir o cume em alguma área da vida garante a felicidade, vai se esvaindo na medida em que nos percebemos incapazes de realizar essa ou outra qualquer atividade.
O óbvio fica escancarado aos nossos olhos.Por melhor, mais competente ou valorizado socialmente que sejamos, em nossa ausência, o mundo continua a rodar e muito bem.Quando comecei a me sentir mal ouvi as duas hipóteses mais imediatas e comuns hoje em dia: ou é virose ou estresse.Parece que as pessoas se esqueceram de que o que mais nos derruba é o simples cansaço. Principalmente o cansaço de ter que manter-se no alto de um pódio, para continuar sendo "bem visto" e vangloriado.
Quanta bobagem...Temos competências e a obrigação de exercê-las, atingindo as pessoas que vivem ao nosso redor, mas se nos preocupamos exclusivamente em nos manter em evidência acabamos por nos esquecer de que, como diz o texto de Eclesiastes, "...há tempo para tudo", inclusive para descansar na divina imperfeição que existindo dentro de cada um de nós, serve para nos lembrar de nossa condição de dependentes e nunca totalmente autossuficientes, como gostaríamos de ser. Lembre-se que existimos dentro de uma proposta comunitária de produzir para viver e não apenas viver para produzir.