Expor para aprender juntos
Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.
Nesses tempos da chamada pós-modernidade, em que tudo pode ser desculpado por absolutamente tudo, sem a existência de critérios na hora de se avaliar o que é certo ou errado dentro do conjunto das atitudes humanas, ficamos muitas vezes com a impressão de que esse “tudo poder” significa liberdade, quando na verdade é apenas mais uma forma de aprisionamento, inclusive com requintes de autofragelo.O “tudo poder” se confunde com a noção de que se tudo é minimamente correto, então nada é errado.
“Tudo” é apenas uma questão de ponto de vista.Dentro da idéia de se viver em um mundo praticamente livre de regras, em que ter limite chega a cheirar naftalina, nossa espécie foi sendo seduzida, principalmente quanto ao fato dela nos passar a impressão de que as outras pessoas devam simplesmente seguir nossa forma de ver, entender e viver “as coisas”.
Pode parecer estranha essa visão de “prisioneiros da liberdade”, mas se existe uma forma de prisão em que somos segregados do direito de expressão, hoje começamos a conhecer essa outra forma em que, tendo a obrigação de nos comportar como “modernos”, plugados e interados em tudo, acabamos com a obrigação de considerar toda e qualquer forma de expressão como aceitável.Em minha opinião, viver em um mundo em que nada pode ser criticado, e que qualquer idéia deve ser aceita como normal é no mínimo inconcebível.
Não tenha dúvida de que existe um conjunto de condutas que é claramente inadequado, ou no mínimo não recomendado, o que nos deixa com a obrigação de descobrir, dentro daquilo que não é errado, o que consideramos certo ou, ao menos, plausível, mas, dentro desse quadro em que tudo deve ser aceito, por que temos que ter determinados valores, se aparentemente ter valores é o mesmo estar engaiolado a estruturas pré-históricas?
Simplesmente porque, ao considerar que toda forma de negociação é lícita, toda forma de educação acaba atingindo os mesmos objetivos ou até mesmo que toda expressão religiosa leva a Deus, é no mínimo uma postura covarde diante das diversidades que as relações humanas nos oferecem, sempre no intuito de, nos confundindo, anular nosso significado dentro do grupo que convivemos.Lógico que nem tudo que não é errado é certo, da mesma forma como nem tudo que é aceitável é recomendável.
Cada pessoa por mais discreta presença social que queira ter ou até mesmo por preferir evitar a exposição de suas opiniões, tem a obrigação de, após vasculhar o intimo de suas experiências, detectar e declarar suas impressões a respeito de todo e qualquer assunto que lhe seja apresentado.Diante dessa obrigação de pensar e declinar a própria opinião, acredito que cada um teria que, no mínimo, além de prestar mais atenção naquilo que acontece a sua volta, observar o sentimento que cada um desses fatos lhe provoca.
Impossível ocorrer indiferença diante de tantas experiências diferentes, bem como acredito ser impossível ao ser humano não gostar de se reconhecer em seus valores e sutilezas, descobrindo-se como membro de uma sociedade, mas com propostas e sentimentos próprios, capazes de fazer, no bom sentido da expressão, um belo “estrago” quando abre suas idéias em público.
A idéia é “expor para aprender junto e não apenas expor para se sentir superior a alguma coisa, ou pior: nada expor, para não se comprometer”.