O custo/benefício de nossas relações

Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.


O custo/benefício de nossas relações

Recentemente, um amigo que acabara de passar por um fracasso afetivo e, outro de relacionamento profissional, no auge de sua penosa lamentação, disse que agora só se permite envolver com uma nova pessoa, depois de avaliar o custo-benefício dessa futura relação. “Fincou o pé” na idéia de que conviver com pessoas diferentes só serve para ser ainda mais “sugado” através de uma variedade de vias, e que nos últimos tempos havia contabilizado mais prejuízo que lucro, em sua auto-estima.

Hoje se gosta menos, sentindo a falta do ânimo e criatividade que lhe foram subtraídos.De outras bocas, e com outra roupagem, tenho ouvido de forma cada vez mais freqüente esses comentários ácidos a respeito da vida em grupo. Tem gente acreditando que ser moderno é ser totalmente individualista, se bastando.Em minha opinião, “se bastar” é equivalente a ter receios de se conhecer além do óbvio.Humanos não podem “se bastar”, simplesmente porque precisam estar sempre atentos e dispostos a buscar o afloramento de suas próximas e instigantes capacidades.Imaginar que certas relações, ou períodos da vida, significaram perda de tempo, é assumir a não habilidade de “se buscar conhecer” diante de instabilidades; é ver sempre o outro como sendo “de menos” ou “se achar demais”, e sinceramente eu não sei o que é pior.

Precisamos tomar cuidado com os preconceitos e a presunção, pois as duas faces desse quadro só servem para demonstrar o tamanho de nossos medos.Não se esqueça: que o medo é infracriador.Na tentativa de se explicar melhor, o mesmo amigo do início de nossa conversa, chegou a dizer que seu sexto sentido tem se tornado tão aguçado, que “só de olhar ou ouvir as primeiras palavras de alguém”, tem conseguido acertar em noventa por cento, suas previsões sobre pessoas que acredita não valer a pena se relacionar.

Pensei então no inverso desse raciocínio matemático; no lugar de se esquivar de novas relações, baseado na capacidade de acertar intuitivamente em noventa por cento dos casos, que tal se arriscar em um envolvimento, acreditando na interessante possibilidade de acertar com os dez, ou até mesmo um por cento da margem de erro.Diante de um quadro com tanta desconfiança nas relações, talvez dentro da margem de erro esteja a grande chance do acerto.Sabe, nos últimos tempos, algumas pesquisas têm demonstrado a importância da convivência social no bem estar físico e emocional de pessoas idosas, inclusive no tocante ao prolongar dessas vidas, recheadas de conhecimentos.

Os que se ocultam dessas possibilidades, em não raras vezes acabam por se descobrir como meros reflexos daquilo que juntaram durante suas vidas; riquezas que com certeza não trazem acalanto ou paz.Por mais que tenhamos o desejo, e que em muitas vezes até chegamos a crer em nossa capacidade e experiência para julgar outras pessoas, não podemos permitir que o medo da perda nos roube a possibilidade de vitórias futuras; aquelas que sempre são as mais interessantes.

O custo-benefício do viver nunca esteve em se “perder pouco”, mas sim em se conhecer e se doar ao máximo. As vivências, e não as teorias de medrosos, é que nos justificam e beneficiam. 

Como disse Paulo Freire: “...não seja uma ilha, cercada de gente por todos os lados”.



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