Para viver, desaprenda o jogar

Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.


Para viver, desaprenda o jogar

Elis Regina, com sua mega interpretação, nos encanta até os dias de hoje com sua capacidade de dar vida própria a canções de consagrados e novatos compositores da MPB, como Renato Teixeira, Belchior e Guilherme Arantes de quem cantou a inusitada “Vivendo e aprendendo a jogar”, em que o compositor brinca com a sabedoria dos ditados populares, fechando cada seqüência de frases com o refrão “... nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”.

Acredito muito no senso popular, pois independente da cultura que representa, ele nos revela a experiência de pessoas que ao se experimentarem diante de fatos ou dificuldades da vida, passaram a se preocupar em guardar via parábolas ou metáforas, esses ensinamentos para as gerações futuras.Parábolas e metáforas são as melhores ferramentas quando desejamos que informações sejam armazenadas pela alma.

“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, “mais vale um pássaro na mão, do que dois voando”, “em casa de ferreiro, espeto é de pau”, são expressões que nos possibilitam economizar diálogos, buscando acelerar e dar fechamento nobre a certos assuntos que muitas vezes se prolongam além de nossa paciência, que modernamente não pode ter tempo.Diariamente convivemos com tanta correria, que acabamos por nos pegar alterados; com o coração a galopar e a pressão a solicitar comprimidinhos que até parecem fazer parte de uma dieta tão comum como arroz e feijão.

Chegamos a nos assustar com pessoas que simplesmente não precisam usufruir das benesses dessas pequenas drogas antiderrame ou enfarto.Só existe jogo quando existem pessoas interessadas, ou até mesmo necessitadas de jogar. Jogos são formas que as civilizações desenvolveram para deixar de se digladiarem em campos de batalhas, com grande derramamento de sangue. Observe nos últimos tempos, dentro de seu trabalho ou mesmo no confronto, desculpe, digo encontro com seus melhores amigos, quantas vezes você se sentiu dentro de um jogo que não tinha o menor interesse em participar.

E agora além de tudo com a obrigação de ser um vencedor.Ser o campeão em uma disputa desnecessária é puro desgaste de energia. Melhor poupa-la para situações em que seja realmente importante. Alerto-lhes que se há uma coisa que não precisamos aprender é a viver. Passarinho, gato, cachorro, jabuti e até bicho-preguiça vivem exclusivamente a partir de seus próprios dotes, somente participando de disputas quando totalmente necessário.Por outro lado, nós humanos estamos nos habituando a sofrer por antecedência, não nos permitindo o aflorar de nossas verdadeiras necessidades.Lógico que precisamos de dinheiro, educação de qualidade (aquela que viabiliza mudanças), saúde e inclusive conforto, porém parece que andamos nos esquecendo do significado dessa palavra.

Ter conforto é usufruir da melhor maneira possível daquelas coisinhas que a vida teima em nos proporcionar, mesmo quando não estamos dando a menor atenção a elas.Aquilo que muitas vezes é usado para provocar nossos “brios” deve ser analisado de maneira criteriosa, para que tenhamos condição de escolher se devemos ou não nos envolver com a situação em questão. Ditados populares são sempre interessantes, mas observe que de maneira geral apresentam tons defensivos, como se precisássemos nos manter eternamente na defesa, com receios do mundo a nossa volta.Aprendemos a jogar vivendo cada momento.

A questão não é estar a favor ou contra alguém ou alguma coisa, mas ir se experimentando em cada nova condição.Ferramentas e experiências do passado somente são úteis nas mãos de quem se predispõe a utiliza-las, se medo, de forma pessoal e objetiva.Pense um pouco: se viver fosse apenas o aprender a jogar, teríamos que nos conformar com a ilusão de que a alegria da vitória está no mundo, mas observe que quando te digo que “viver também depende de desaprendermos a jogar” para exercitarmos o acreditar de que a tal da felicidade brota dentro de nós: prestemos mais atenção. Se você não acredita, pergunte a uma criança.



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