Por que as pessoas se casam?

Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.


Por que as pessoas se casam?

Outro dia um adolescente me fez três perguntas absolutamente inesperadas.Questionou-me se “adulto também tem amigo?”, o “porquê das pessoas se casarem?” e o “por que é preciso ter filhos?”.

Confesso que mesmo confuso e um tanto atordoado com o impacto das questões, me vi na obrigação de responder sem demora, afinal de contas, perguntas objetivas merecem respostas à altura. Porém, durante o pequeno lapso de tempo, decorrido entre questões e argumentações, busquei descobrir quais seriam as possíveis conexões, entre essas dúvidas e as palavras: amizade, casamento e prole.Repentinamente, um insight me trouxe a palavra “aliança”, à cabeça.“Aliança” deveria ser a palavra chave.

Mas, com quem e por que devemos fazer alianças?Onde estaria o sentido de dizermos “não” a nossa independência, para estarmos aptos a alianças com outras pessoas ou idéias?O correto, e mais fácil, não seria sempre buscar nossa autonomia?Afinal, qual é a diferença entre independência e autonomia?Diante de tantos questionamentos externos e internos, me apressei em responder a meu indagador, dizendo que: - “... apesar de muitas vezes não parecer, adultos tem amigos, e o casamento e a criação de filhos são coisas tão naturais que simplesmente acontecem com todas as espécies de animais, inclusive com algumas se comportando como monogâmicas. Isso para não falarmos das mais diferentes comunidades indígenas”.

Mais tarde, passado o momento do “ter que responder para não ficar pior”, me coloquei a pensar a respeito da necessidade ou função das tais alianças, bem como na expressão “sinergia”: ato ou esforço simultâneo de diversos órgãos, na realização de uma função.Compartilhar de diferentes pessoas na busca de um mesmo projeto, podendo variar da área profissional ou lucro empreendedor, ao simples e complexo “viver bem”.O viver, a que me refiro, só se consolida tendo o entremear de diferentes idéias e experiências como base, pois somente dessa maneira é possível se vislumbrar outras formas de interpretação do mundo.Repare que a maior parte dos problemas humanos está diretamente ligada à forma como olhamos para eles.

Quanto mais preconceito mais insegurança e mais solidão, e somente a partir de outras experiências e olhares, é que passamos a ter a oportunidade de novas interpretações do mundo. O estabelecimento de alianças, quer comerciais, políticas ou afetivas não pode ser entendido como um ato de caridade, em que alguém ou uma instituição se predispõe a uma parceria apenas para auxiliar a quem quer que seja.Devemos fazer alianças com o propósito de nos apropriarmos do direito de, crescendo nas parcerias, estarmos cada vez mais aptos a essas novas interpretações de nossa existência.Se adultos tem amigos?

Sim, todos os adultos dispostos a fazer diferença, administrando seus medos e impulsos, usufruem do prazer e das histórias de pessoas a sua volta.Por que as pessoas se casam?Para aprender a administrar e se administrarem diante de afetos e adversidades, tendo por companhia “alguém” a quem é capaz de assumir que ama.A gente precisa ter filhos? Se possível, sim. Afinal de contas é a eles que devemos dedicar nossas vivências e a partir deles que podemos nos repensar enquanto seres humanos.

Certa vez Vinícius de Moraes disse:“...filhos, melhor não te-los mas se não te-los como sabermos? ”Pessoas que pregam, e aparentemente só lutam por liberdade, precisam ser lembradas que essa suposta independência costuma ser acompanhada de solidão; prêmio decorrente dos excessos de preconceito. Por outro lado, a autonomia nos solicita a tomada de decisões dentro de um contexto de relações humanas. Ser autônomo é estar em busca da gerência da própria vida, reconhecendo a importância de cada pequena engrenagem a nosso lado.Amigos, companheira (o) e filhos são, no mínimo, ótimas e divinas fontes de alimento para nossa existência.

Da próxima vez que me indagarem dessa forma, serei claro.Se nascemos e existimos em bando é para que aprendamos a preservá-lo, e só os covardes se abstêm dessas dádivas.



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