Primeiro de abril. E dai?

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Primeiro de abril. E dai?

Esse ano me deparei com um inusitado dia da mentira em que ninguém mentiu.Parece que esquecemos o direito que tínhamos de utilizar esse dia para mentir, sem a preocupação de ver nossa índole questionada por essa ou aquela pessoa. Abdicamos do “prazer” de ridicularizar amigos e conhecidos através de sutis frases enganadoras ou até mesmo maldosas, que chegava a nos dar uma estranha sensação de superioridade, mesmo que só por um momento.

Cheguei a pensar que era uma mera coincidência ocorrida em meu meio, mas depois de conversar com muita gente diferente, descobri que de maneira geral, a data parece realmente ter sido esquecida e até perdido seu glamour. Ter bom ou mau gosto na escolha da mentira ou brincadeira que se escolhia, sempre foi coisa bem aceitas e esperadas para esse dia.

Parei para tentar entender quais os fatores que estariam gerando o esquecimento dessa data tão significativa no passado, que levava muita gente a passar dias e noites na elaboração de inverdades, apenas para se divertirem com a cara que as outras pessoas faziam, ao descobrir que tinham sido enganadas.Lembrei-me de certo primeiro de abril, em que meu professor de matemática entrou sala adentro com ar carrancudo e, despejando uma prova daquelas impossíveis de se revolver, foi logo dizendo que já não mais aguentava nossa turma e que “de agora em diante” nós iríamos ver o que “era bom pra tosse”, para, apenas depois de ter certeza de nosso desespero, nos lembrar de que estávamos no bendito dia em questão; gracinha que só nos fez rir amarelo, depois de muito tempo depois do “estrago”.

O que será que vem provocando a desqualificação desse “quase feriado nacional” daqueles tempos?Teríamos atingido a maturidade social, que dispensa brincadeiras desnecessárias ou estamos conseguindo praticar o juramento do “dizer a verdade, nada mais que a verdade”, pelo bem de todos?Ah, se tudo ou boa parte disso fosse real!Tenho certeza que em um mundo em que as pessoas habitualmente se reconhecem por suas verdadeiras caras, nosso sono seria bem mais leve e restaurador.

Imagine a cabeça no travesseiro após todo um dia de envolvimento com pessoas claras e objetivas.Infelizmente, após procurar a resposta, conversando e observando muita gente, cheguei a triste conclusão de que esse dia especial se perdeu no meio da rotina das mentiras que passamos a viver.Mentiras políticas, criminosas, familiares; algumas terríveis e outras até simpáticas, por mais que isso seja inadmissível. E por que mentimos tanto?

Lembre-se que quando distorcemos uma história ou situação é porque ela pode revelar alguma de nossas fraquezas, e para isso não andamos preparados.Mentimos em razão do medo que temos de ser desnudados. Depois de revelada nossa face, mentimos em razão do medo de termos de conviver com a própria imperfeição, em meio a tanta competição social. Pobre gente! Para muitos, mentir é uma necessidade de sobrevivência diária.Ah, que saudades do dia primeiro de abril daqueles recentes tempos.Tempos em que trezentos e sessenta e quatro dias por ano, ainda acreditávamos que falar a verdade era bom e não doía.

Sem querer ser antiquado, proponho a reinvenção do dia da mentira, para que haja mais tempo para a prática de nossas verdades.



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