Reputação e consciência

Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.


Reputação e consciência

Para se superar a dependência daquilo que os outros pensam a meu respeito, é necessário buscar aquilo que eu penso a meu respeito.Sem dúvida, precisamos nos preocupar com nossa reputação, pois ao contrário passaríamos a ter grande dificuldade no viver em sociedade. Gostem ou não, viver em grupo sugere que todos os envolvidos tenham valores e atitudes que, mesmo não sendo idênticas, precisam ser continuamente acordadas.Uma boa reputação significa estar sendo bem aceito no meio que convivemos; e isso é bom.

O perigo se esconde quando, no descontrole desse processo, passamos a dar mais importância a essa avaliação social do que a nossa própria opinião a respeito de determinados temas e situações. De tanto esforço para atender aos apelos desse ou daquele grupo, deixamos de exercitar nossa verdadeira interpretação dos fatos que se alinham a nossa frente.

Focados na reputação deixamos de olhar para aquilo que realmente é conteúdo de nossa consciência.Refiro-me a expressão “consciência”, no sentido daquilo que vivenciamos e buscamos entender durante toda nossa existência.Apesar do necessário entrosamento que devemos cultivar com o mundo em que estamos inseridos, não podemos abdicar das características que nos compõem, pois dessa forma pareceríamos uma flauta que, resolvendo soar como trombone para se sentir mais poderosa em meio aos instrumentos de uma orquestra, ignorando a importância de sua presença, som e timbre, se tornaria ridícula e vazia.

Opinião alheia não existe para ser ignorada, como pensam alguns radicais defensores do individualismo, e sim para ser utilizada como crítica passível de interpretação e aceitação, podendo, a partir do desgaste causado, colaborar com a lapidação de nossas melhores e desconhecidas habilidades. Lapidação é sempre resultante de desgaste bem feito, porém o desgaste pelo desgaste só serve para criar ferida e alargar sofrimentos. Pense um pouco na possibilidade de utilizar a opinião alheia a teu favor, reestruturando teus valores, porém sem a perda de tua identidade; aquela que se iniciou em tua infância e que jamais pode ser apagada, por mais que alguns tentem.

Muitas vezes o que nos perturba é exatamente esse conflito entre o que é e o que não é nosso.Certa vez, quando perguntado a respeito de como fazia sua esculturas, Michelangelo respondeu que simplesmente retirava do mármore tudo aquilo que não era necessário, o que pode nos servir de alerta quanto a observarmos o que é e o que não é “nossa cara”.O que será que acredito, e o que será que andam tentando fazer que eu acredite? 

É justamente a partir desse quadro, que muita gente anda se sentindo errada, e até mesmo culpada, por não se compreender dentro de certas situações; quando errado é a pessoa tem que mostrar-se diferente daquilo que realmente é.

Ser conveniente é essencial, desde que essa conveniência esteja ligada aos grupos sociais, sem detrimento de nossos interesses pessoais. Quando a reputação é maior que a consciência, o ser se desumaniza e a conseqüência é a angustia.

Viver é coisa simples, desde que se tenha a ousadia de aprender a utilizar as pressões em favor próprio, não nos escravizando naquilo que nos rodeia.



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