Sem o direito de sofrer diante do óbvio
Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.
E tem aquela história do rapaz inteligente e observador, que andando distraído pela calçada, ao olhar para uma casca de banana jogada à sua frente, comentou desesperadamente:- “Ai meu Deus, lá vou eu cair de novo”!
Quando se sabe dos riscos, no mínimo precisamos estar preparados para nos defender, com o menor desgaste possível.Não tenho dúvida de que problemas existem e não são poucos. Acredito, inclusive, que eles são necessários para o despertar de algumas de nossas mais impensáveis capacidades, o que não nos proíbe da expressão de desespero ou até mesmo explosão, diante da inesperada presença de alguns deles.
O novo é sempre nosso grande terror.Ficar espantados quando ouvimos frases inesperadas, vemos cenas desconcertantes ou fatos chocantes, é o que mostra que sofrer diante do inesperado não é nada mais que a reedição da conhecida lei da ação e reação; o impacto do fato me faz reagir antes do pensar, o que muitas vezes chega a ser ridículo.
Parece mesmo que tudo que é novo sugere uma demonstração de incômodo.Agora, de um lado se é natural que o inesperado sempre provoque tanta ansiedade, por outro, quando estamos diante de pessoas ou situações conhecidas, praticamente perdemos o direito de nos descabelar e ficar angustiados.Perdemos o direito de agir como vítimas indefesas.
Chega a ser tola essa constante reclamação, que muitos cultivam. Reclama-se das mesmas pessoas a respeito das mesmas características indesejadas.Você já reparou o quanto costuma se irritar com situações que lhe são absolutamente previsíveis?Sabe aquele colega de sempre, que faz aquela colocação racista de sempre; aquele parente que não consegue ficar em paz enquanto não coloca sua piadinha fora de hora ou o patrão que sempre ameaça da mesma forma, pois essa é a única conduta que conhece, quando se vê inseguro.
Porque sofrer quando estamos na presença de uma pessoa que, com sua mania de limpeza, não para de reclamar da poeira de determinado lugar, ou quando aquele amigo que de tanto receio de assalto só sabe falar de novos sistemas de segurança ou do último crime que virou manchete nos telejornais.
Quando você conhece as ideias e a conduta de determinada pessoa, a maior parte de suas atitudes se torna tão óbvia, que passa a ser inadmissível a presença de nosso sofrimento diante da mesma situação.Já que Aristóteles afirmou que “a função primeira do conhecimento, é dar condições do homem vencer seus próprios medos”, então a questão deixa de estar na criação de uma barreira diante de cada problema, mas, acima de tudo minimizar o impacto de toda e qualquer forma de desgaste previamente conhecido.
Como está escrito em Eclesiastes (8:16-17), “quando apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria, e a ver o trabalho que se faz sobre a terra (pois homens há que nem de dia nem de noite conseguem dar sono a seus olhos); então vi a obra de Deus...”.
O segredo não está em apenas se saber tudo, é necessário que descansemos naquilo que conhecemos.Experimente e até mesmo sofra durante tuas novas vivências, porém, lembre-se que, sendo o conhecimento uma arma sempre a nosso favor, estamos proibidos de sofrer diante do óbvio.
Sugiro que exercitemos a “desvitimização”.