Ser e não ter que ser

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Ser e não ter que ser

Shakespeare que me perdoe, mas nos dias de hoje, sua mágica indagação do “ser ou não ser” talvez precise ser revista para novas interpretações. Por um lado ouvimos muitas pessoas apregoando que a existência dos problemas atuais está diretamente ligada à forma “louca” como cada um de nós tem se questionado quanto à importância de “ser” alguém, com esse ou aquele status, ou “ter” algo que garanta esse mesmo destaque social, enquanto outros completam dizendo que a obrigação quase óbvia de “ter que ser alguém”, é a única forma de se justificar a própria existência humana na terra.

Afinal de contas, o que significa ser um ser humano? Que características marcam essa existência?Repare que somos a única espécie animal que inclui o verbo “ser” na própria definição de espécie.

Em qualquer ambiente que frequentamos, ouvimos pessoas tendo a necessidade de dizer que são “isso ou aquilo” ou que compraram “essa ou aquela” coisa, deixando evidente a insatisfação de simplesmente aproveitarem as oportunidades do momento, para o desenvolvimento de relações que sejam frutíferas tanto para si quanto para os demais que as rodeiam. Chega a parecer que a conjugação do verbo “viver” só é possível diante da comprovação de algum tipo de história pessoal mirabolante.

É o caso de pessoas que não suportam passar por um final de semana sem ter que se vangloriar, em alto e bom tom, de algum feito heroico que marque a própria existência. Esquece-se que o que importa é intervir no meio e no momento que vivemos através de atitudes, palavras de colaboração e até mesmo silêncio respeitoso.Que triste essa necessidade, ou doença, de ter que se provar a todo e qualquer custo.

Parto de um conceito claro. Se “sou” nada preciso demonstrar. Se sei nadar, nado. Se sou um bom profissional, trabalho. Se sou um bom aluno, estudo e atinjo meus objetivos.

Assim pensando, um gato prova que é um gato ao se comportar como tal e não fazendo discurso a respeito de suas qualidades felinas, o que sugere que ser um humano deve ser demonstrar, sem grande alarde, as atribuições humanistas. Mas, será que nos lembramos de quais são elas?

De tanto querer voar como os pássaros, nadar como os peixes ou atingir os cumes dessa ou daquela "pseudo-sociedade", tendemos a acabar sem condição de identificar nossas simples, reais e divinas funções.

Ser é não ter a obrigação de se mostrar que é.



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