Terroristas

Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.


Terroristas

Datas e lugares são fatores extremamente simbólicos. Tão simbólicos que em muitos casos, quando nos aproximamos até sem perceber de algumas dessas situações, corremos o risco de virmos a nos sentir incompetentes e fragilizados. Aniversários, natais, páscoas ou mesmo certos cheiros ou paisagens chegam a nos marcar de tal forma, que pela mera presença desses estímulos, nossos corpos e mentes passam a reagir de forma descontrolada, totalmente fora de nossas mãos.

Sem a menor sombra de dúvidas, o que mais apavora a todo e qualquer humano, é justamente a sensação de não ter condições de apalpar sua história, e as variáveis que insistem em acompanhá-la. O dia 11 de setembro é um exemplo claro desse quadro desde 2001, quando a data passou a ser sinônimo de medo e incerteza. Naquele ano, Osama Bin Laden e parte de sua legião de fanáticos atacaram os Estados Unidos da América, deflagrando uma terrível sensação de insegurança não só no povo americano como também em muita gente pelo mundo afora.

A questão a partir daquele momento, muitas vezes se restringiu a severas críticas com relação à questões políticas internacionais e aos terroristas em si (indivíduos que se diferem de outros marginais pela astúcia, organização e poder de gerar uma perturbação contínua e maquiavélica), que homeopaticamente vão atuando por dentro das pessoas.

Faço aqui duas perguntas:- O medo vem de fora ou de dentro de cada um de nós?; e- Será que o terror não está diretamente ligado à perda de nossa capacidade de “fé e esperança”?

Dizem que o tal de Osama matou mais ou menos 5200 pessoas naquela fatídica empreitada, mas o que eu questiono é quantos se permitiram morrer depois daquele evento, por receio de sua reedição. Quantos AVC(s), infartos e outros maus súbitos ocorrem, cada vez que algum membro da família Al Qaeda aparece, e via internet ameaça realizar novos seqüestros, assassinatos ou ataques, em nome de um suposto Deus?

Sinceramente acredito que além do temível Osama, a maioria dos terroristas tem causado mais mal pela fragilidade dos que facilmente se atemorizam, do que pela real força daqueles que se apresentam como estrelas de alguma máquina terrorista.Todos os grandes problemas se desenvolvem, a partir dos pequenos que, de maneira geral não são resolvidos. Terrorismos familiares, sociais, educacionais e afetivos.Ameaças de pais, educadores, políticos e até mesmo de colegas.

Jogos de cobranças e ameaças.De tanto crescermos dentro desses jogos, acabamos por considerar como normal o fato de sermos pressionados e comparados a outros, dentro de um “nobre” intuito de sermos encaixados ou encaixotados, a serviço de uma certa “normalidade”, sempre mantida pelo medo. Temos que ser vitoriosos diante das barreiras dos vestibulares, dos concursos públicos, das posturas estéticas, do status ou da aparência de superior, não tendo o direito de definirmos, ou quem sabe descobrirmos nossas verdadeiras características e interesses.

Dentro das escolas, inclusive daquelas que alicerçam suas propagandas em um ensino liberal e humanista, encontramos a valorização exclusiva das competências da leitura, escrita e utilização das fórmulas matemáticas, em detrimento, entre outras características, da capacidade de ouvir, falar e se posicionar diante das delicadezas e das agruras do mundo. Pessoas que se arriscam a debater idéias desenvolvem com muito mais facilidade as habilidades de se adaptar às situações, diminuindo consideravelmente o risco de sofrerem por antecedência, ou desnecessariamente.Terrores sempre existiram.

Ouvi dizer que na época em que Lampião e seus cangaceios agiam pelos sertões do nordeste brasileiro, muita gente vivia apavorada em sítios e fazendas do interior paulista, alguns chegando a construir esconderijos subterrâneos.O boato despertava o medo (sinônimo de impotência), e enquanto muitos se privavam da liberdade onde Lampião nunca esteve, este ia tocando a vida em suas aventuras ao lado da tal Maria Bonita.

Cuidado com a rua! Não chegue perto da piscina funda! Você soube do assalto da última segunda-feira lá em São Paulo? Você ficou sabendo do último tipo de seqüestro que inventaram? Não existe lugar mais seguro. Nesse mundo não dá mais para confiar em ninguém.

Cada vez que ouço expressões desse tipo, fico mais convicto que estamos nos especializando em fabricar e distribuir pânico e insegurança, especialmente entre aqueles que mais amamos e queremos o bem. Criamos uma nova versão de terroristas.

Os auto terroristas, que na maioria das vezes optam por complicarem o viver, se prendendo exclusivamente ao captar e ampliar os mais diferentes receios.

A frase pode parecer estranha, mas te afirmo que aqueles que não se derem ao risco de serem seqüestrados, se desvencilhando das próprias amarras, jamais terão novas, interessantes e necessárias pessoas à sua volta.Quando tiver um tempo pense e, se possível se arrisque nessa ideia.



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