Um pensamento e-mail
Publicado em Andei Pensando..., Educação, Cotidiano, Relacionamento e Psicologia.
Tenho me deparado nos últimos tempos com constantes afirmações que se referem ao fato de estarmos vivendo a era das comunicações, e que nunca se viu tanta informação sendo assimilada. Esse é um momento de grande efervescência cultural. Particularmente não tenho a menor dúvida de que as pessoas realmente andam falando muito, especialmente a respeito de tudo aquilo que nada represente de risco para suas imagens e fantasias.
Fala-se via celular, via internet, via torpedo, e até cara a cara, por mais que isso possa parecer ultrapassado. Porém, a questão é se saber em quantos momentos esses diálogos chegam a gerar algum crescimento, a partir do debate de conceitos ou notas que sejam significativos e capazes de gerar a revalorização da dignidade dos envolvidos.
As pessoas precisam parar de se imaginarem como apenas seres passíveis de repetir ideias, para se posicionarem em prol de transformações do mundo em que vivem.Toda essa situação faz-me observar algo que em um primeiro momento, talvez chegue a soar ridículo, mas, que tal uma primeira pergunta?
- Qual é a diferença entre um pensamento (desejo ou sentimento) e um e-mail?
A resposta passa por três pequenos detalhes bastante simples, pois um e-mail depois de digitado, além de ser enviado, pode ser guardado ou deletado. Por outro lado, quando temos um pensamento ou desejo não é possível deletar, nos restando apenas as hipóteses de enviar ou guardar. Como escreveu o artista plástico Juarez Machado: “viver é desenhar, sem borracha”.
Pensando a partir dessa frase, imagine que você utilize seu computador por anos, digitando e pesquisando os mais diversos temas, sem nunca deletar nada.Logicamente ele acabaria cheio e começaria a travar; ficando lento. Segunda pergunta: - Você conhece gente travada? Pessoas que em razão de não expressarem suas verdades e também por optarem pela prática de não tentar entende-las, acabam por se perder da própria identidade, tornando-se amorfas e sem força para intervir no mundo em que estão inseridas.
Aqueles que por receio de incomodar, ou virem a ser mal entendidos fogem de diálogos verdadeiros, ficando semelhantes a papagaios que apesar de gritarem por horas a fio, nunca se libertam das chacotas e risadas dos que os ouvem. Em muitos casos, as tais pessoas travadas chegam a despertar a compaixão daqueles que as rodeiam, mas sinceramente, partindo do fato que cada ser tem a obrigação buscar escrever a própria história, tentando intervir benéfica e diretamente em seu meio, prefiro identificá-las como covardes.
Covardes não apenas por não revelarem descaradamente seus desejos, pois sei muito bem o quanto um homem equilibrado precisa discernir a respeito da hora, as palavras e inclusive a consequência, positiva ou não de sua expressão. A maior covardia nunca esteve em atirar palavras a esmo. A questão mais complexa reside no fato de se buscar fugir do entendimento, de cada novo e peculiar dissabor da vida. Textos ou problemas de vida precisam ser analisados, pois apenas a partir da compreensão dos mesmos, é que passa a ser possível ao indivíduo uma reavaliação de seus valores e de seus planos.
Cabe a toda nossa sociedade, mas muito especialmente a pais e a professores, um grande empenho no sentido de uma campanha nacional que vise em primeiro lugar, levar as pessoas ao exercício rotineiro da expressão de suas verdades, através de textos verbais ou escritos bem elaborados e sem exageros, (mesmo que venham a ferir nossas relações já tão machucadas); para em seguida despertar a importância de se buscar a organização de cada quadro, por mais feio que pareça, pois só de posse de nossas reais experiências nas mãos é que podemos voltar a falar na dignidade humana. Acreditar-se merecedor de ser feliz.
Deixemos ás máquinas, a inferioridade de terem que deletar suas historietas, por não serem grandes o suficiente, a ponto de traçar e lutar por seus próprios sonhos e projetos.
“... mas é claro que o sol vai voltar amanhã...”.