Como anda a pequenez de nossa grandeza?
Publicado em Andei Pensando..., Educação e Psicologia.
O que temos de melhor ou pior, para apresentar aos que fazem parte de nossa história ou para deixar de herança para aqueles que nos sucederão? Será que temos observado a importância do conhecimento como alimento vital para o fortalecimento de nossas raízes, dentro da suposta obrigação, de termos que sempre ser frutífero?
O poeta e compositor vanguardista Walter Franco, na década de 70, escreveu na música “Quem puxa os seus, não degenera”, duas frases interessantes: - “Daí meu pai disse... filho, espera a inocência que há no olhar da fera”, - “E a minha mãe... meu Deus a paciência de uma longa espera”.
Foi remexendo nessas lembranças, que comecei a pensar a respeito do quanto que temos um desnecessário, e muitas vezes perigoso hábito de observarmo-nos extremamente superiores a aquilo que realmente somos. Basta simplesmente acontecer algo de inusitado em nossa família, em nosso trabalho ou em nossa roda de amigos, para que comecemos a buscar freneticamente o nosso papel, ou até mesmo a nossa culpa, dentro daquele contexto.
Já reparou que, com raras exceções, até nos filmes com extraterrestres, eles sempre nos olham como seres que precisam ser destruídos, em razão da importância que temos diante do espaço de “supostos outros”? Incrível como eles sempre precisam nos destruir ou, no mínimo, aprisionar, estudar e compreender. Somos sempre seres interessantes demais... É como se cegamente acreditássemos no fato de que “se não fosse por nossa existência, isso ou aquilo outro não teria acontecido”.
Mas, se é que alienígenas existem, por que temos tanta dificuldade em acreditar que para eles podemos ser simples ou mesmo tão “meramente importantes” como ínfimos e imperceptíveis insetos ou bactérias? Será que fazemos mesmo tanta diferença na vida de nossos vizinhos, colegas, parentes, pra não falar da humanidade em si?
Continuando nesse exercício de ideias, preciso dizer que acredito, e muito, no fato de que cada pessoa é capaz de mexer e impulsionar o mundo a sua volta, quer sozinha ou em grupo, já que capacidade, ou oportunidade para obtê-la é o que não nos falta. O fato é que por uma série de motivos, diretamente ligados a nossa educação, desenvolvemos a necessidade de viver o papel de heróis e, dessa forma, passando a sofrer com a mera possibilidade de não ter esse sucesso alcançado.
Carecemos de ter e mostrar nossa suposta fartura no que tange a objetos, soluções para todos os problemas, filhos e amigos admiráveis, respostas prontas e criativas (combinação matematicamente impossível) e principalmente a vida nas próprias mãos. Alguns chegam mesmo a não se conformar com o “não nadar como peixes e não voar como pássaros”.
Se culpar por um negócio que deu prejuízo, só tem sentido se for para aprender alguma coisa com isso já que muitos desses processos comerciais fracassam por motivos ligados ao mercado, momento histórico ou até mesmo por falcatruas alheias, que muitas vezes nos levam a uma sensação de espanto, do tipo: - por que não percebi antes? Nossas vitórias não precisam acontecer e ser ovacionadas diariamente, já que a memória é um presente que Deus nos deu para a preservação da felicidade.
Querer ter todas as respostas é direito de todos, mas exigir que elas venham é puro exercício de ignorância. Por que temos tanto medo de descobrir que não somos capazes nem de garantir nossos próprios passos? A grandeza de cada pessoa reside na somatória das informações e sensações de sua história que de alguma forma a levam a se exercitar nas oportunidades que lhe são apresentadas. Talvez sejamos fundamentais sim, mas por míseros segundos em que podemos tocar e ser tocados por aqueles que nos rodeiam, mesmo quando apenas passageiros. Porém, quanto a sermos grandes interventores no planeta, esqueça! Nossos substitutos provavelmente abafarão nossa importância sem muito esforço; o que, aliás, é muito bom, pois ao contrário disso, imagine um recordista olímpico, que além da superação do dia do título, tivesse que passar o restante de sua vida torcendo pela não quebra do mesmo.
Mas, não olhe esse quadro como ruim, pois ser menos do que acreditamos ou gostaríamos, é o que nos permite viver o novo, sem a neura da preservação do “sucesso a toda prova”. O médico não precisa ficar se vangloriando da última cirurgia e sim partir para a próxima; o compositor pode acordar amanhã e se dispor a novas criações, enquanto a doceira já pode se arriscar em alterar a tradicional receita de família.
Basicamente temos a chance de ser a continuidade (muitas vezes piorada) daquilo que conhecemos e o ponto de partida aos que nos experimentam, e essa característica não podemos negar. Nossa pequenez garante sermos transitórios e não perpétuos.
Assim pensando, como será que anda a grandeza de nossa pequenez?